Na área de ensino de línguas estrangeiras, muito se fala sobre métodos, metodologias, abordagens e afins, sempre com o intuito de se encontrar a "melhor" maneira de ensinar. Já passamos pela abordagem da tradução, o método direto, a abordagem audiolingual, o Silent Way, chegamos à abordagem comunicativa (que ainda parece ser a mais "em voga") e até hoje a discussão perdura sobre qual seria a maneira ideal de se ensinar uma língua estrangeira.
Neste texto, proponho uma mudança de foco: do "ensinar" para o "aprender", isto é, ao invés de discutir quais seriam os melhores métodos, abordagens ou, até mesmo, técnicas a serem utilizadas pelo professor, iremos discutir quais metodologias têm o poder de auxiliar o aluno em seu processo de aprendizagem, tornando este mais significativo. Para isso, o conceito de metodologias ativas será brevemente discutido e o papel destas como possíveis ferramentas para a aprendizagem de língua inglesa será salientado.
O que são metodologias ativas?
Para que possamos entender o que são metodologias ativas, proponho o seguinte exercício:
1- Descreva uma aula de inglês típica em uma escola regular no Brasil.
Tirando algumas exceções, todos pensamos em um aula em que o professor transmite seu conhecimento e os alunos anotam, memorizam e depois reproduzem o que foi passado pelo professor em uma prova. Em geral, o foco está na gramática e vocabulário e não no valor social da língua. Segue uma boa síntese dos papéis dos professores e dos alunos nesse processo:
"O papel tutelar do professor, que exerce autoridade face aos seus conhecimentos científicos, sobrepõe-se ao papel do aluno. Este, ao invés de aprender, e menos ainda aprender a aprender, apenas acumula saberes que deverá ser capaz de repetir fielmente" (Vasconcelos et al., 2003, p. 12)
A situação descrita acima, com a qual todos estamos bem familiarizados, é um exemplo do que seriam metodologias passivas de ensino e aprendizagem. Esse tipo de ensino, ao qual Freire (2005) se referia como sistema bancário de educação, tem como oposição as metodologias ativas.
Se nas metodologias passivas os alunos são vistos como tabulas rasas a serem preenchidas com o conhecimento do professor, nas ativas eles são os responsáveis por sua própria aprendizagem e o professor passa de detentor do conhecimento a mediador.
De acordo com Bacich e Moran:
"Metodologias ativas são estratégias de ensino centradas na participação efetiva dos estudantes na construção do processo de aprendizagem, de forma flexível, interligada e híbrida. As metodologias ativas, num mundo conectado e digital, expressam-se por meio de modelos de ensino híbridos, com muitas possíveis combinações." (2017, n.p.)
Em outras palavras, metodologias ativas são o caminho para uma aprendizagem mais significativa, uma vez que colocam o aluno no centro desse processo de aprender. O aluno passa de espectador à protagonista na construção desse conhecimento, que pode acontecer por meio de estratégias que vão desde de jogos educativos até projetos mais complexos, em que os alunos deverão pensar em soluções para possíveis problemas. Ao utilizar metodologias ativas em suas aulas, o professor dá a seus alunos a oportunidade de trabalhar em diferentes padrões de interação, isto é, em grupos, individualmente, em duplas ou como for melhor e mais profícuo para o aluno.
Por que utilizar metodologias ativas na aula de inglês?
Os próprios PCN (1998) já sinalizaram que as abordagens obsoletas utilizadas pelos professores desmotivam os alunos a aprender uma língua estrangeira. Insistir em um modelo defasado de educação, que permanece o mesmo desde o século XIX, é, no mínimo, contraprodutivo. É sabido que há uma grande incompatibilidade entre metodologias de ensino passivas e os millenials e, principalmente, a geração Z. Sendo assim, lançar mão de metodologias que envolvam esses alunos e tragam significado para o processo de aprendizagem é questão de sobrevivência para o professor do século XXI, assim como também é essencial que esse professor esteja sempre atualizado sobre as novas tecnologias, tirando-as da clandestinidade e trazendo-as para sua prática docente.
Por fim…
Em próximos posts, serão destacados exemplos de estratégias de metodologias ativas que podem ser utilizadas por professores de língua. Naturalmente, cabe ao professor, por meio da observação e discussão com suas turmas, fazer a seleção da (s) estratégia (s) ideal (is) para cada aula, levando em conta os objetivos da aula e conteúdo programático a ser dado.
Até breve,
Raisa
Referências
BACICH, Lilian; MORAN, JOSÉ. Metodologias Ativas para uma Educação Inovadora: Uma Abordagem Teórico-Prática. Penso Editora, 2017. Não paginado.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005.
VASCONCELOS, Clara; PRAIA, João Félix; ALMEIDA, Leandro S.. Teorias de aprendizagem e o ensino/aprendizagem das ciências: da instrução à aprendizagem.Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas , v. 7, n. 1, p. 11-19, June 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572003000100002&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Feb. 2018. http://dx.doi.org/10.1590/S1413-85572003000100002.
Oi Raisa. Houve um semestre que orientei um TCC no curso de formação de professores e o tema escolhido pela aluna foi o bilinguismo. Ela apresentou uma proposta de um autor inglês sobre a importância da aprendizagem de uma segunda língua, nesse caso o inglês, como ferramenta chave no desenvolvimento cognitivo da criança na primeira infância, dando destaque a plasticidade cerebral nessa fase. Não me aprofundei no assunto, por não ser minha área de interesse no momento, mas achei bem bacana o assunto.
ResponderExcluirOlá, Gisele.
ExcluirO bilinguismo é certamente um fenômeno fascinante e a proposta apresentada por sua orientanda parece bem interessante. Eu adoraria saber o nome do autor, caso se lembre! :)